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Terra Indígena Digital convida : Binário Armada

Atualizado: 19 de fev. de 2021

"Sou Gil Duarte (Binário Armada - Mokōî Ygarussu), filho de Maria das Graças e Gilson, neto de dona Toinha, seu Zé Maria e dona Sebastiana Gonçalves, filha de João do Nascimento. Sou um artista em busca do meu passado, passado este que vem com processo criminoso de apagamento ao qual minha família sofreu e o pouco que sei vai até no máximo um bisavô. Apagamentos estes que vem da falta de documentos, êxodos, migrações, falta de documentos, várias desconexões. Uma vez que na época dos meus avós, meus bisavós, a documentação, a alfabetização ainda eram para poucos.

Nasci em Fortaleza, mas minha ligação mais forte é do lado da minha mãe que nasceu em Forquilha-CE. Meu avó veio de Sobral e minha avó, de onde vem essa ligação mais forte com o sangue indígena, nasceu no Cariré. Chamavam minha mãe de Tapuya na infância e ela tem traços indígenas. Essa parte da família da minha avó que veio do Cariré, que o pouco que sei, tem origem dos antigos Aeriús, Irarijús, que foram aldeados num lugar hoje conhecido como Groairas no Cariré. Essa parte da família da minha avó se perdeu por conta do corte de laços da família do meu avô com a da minha avó depois que ela se foi e desde então esse vazio se tornou cada vez mais forte em mim. E desse vazio que renasce meu corpo ancestral, é dessa luta contra o vazio que nasce meu trabalho que é produzido através de um processo de reconexão. Desse vazio que criei minha casa e a coloquei na cabeça como um cocar! Uma interação entre a ancestralidade, e as linguagens ocultas na vida cotidiana.


Essa casa como morada da alma. Construo minha arte através dessa busca, dessa curiosidade, desejo de saber quem eram meus ancestrais, tão fortes que vivem em meu sangue, em meus aba-ocas, personagens que criei em minhas obras artísticas. Um processo de criação de um mundo imaginário, utópico sobre aldeias, floras, faunas imaginárias. Uma tentativa de repovoar essa terra devastada pela violência e pelo apagamento histórico. É dessa luta que tento me reconectar com meus territórios usurpados na alma, na mente, essa constante luta contra a colonialidade mental-social que tanto nos impede de reconectar com a nossa ancestralidade diária. Nós, indígenas, ocupamos poucos territórios digitais e precisamos ocupar mais estes territórios para mostrar que existimos e somos indígenas em qualquer lugar".



Gil criança

Conheça um pouco mais de Binário Armada





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